Cátia Garcez
Professora e Crítica Cultural
O WhatsApp é uma ferramenta de comunicação que veio para facilitar a vida das pessoas. No entanto, é necessário tomar alguns cuidados, quando se trata de grupos, ditos “institucionais”. O termo institucional, significa que uma empresa apropria-se da ferramenta para estar em contato direto e a qualquer hora com seus funcionários, e com o propósito de resposta imediata, daqueles que fazem parte da corporação.
Esta interpretação tem sentido do ponto de vista do empregador capitalista que prioriza o lucro em detrimento do bem estar de seus funcionários e, caracterizando a “resposta imediata”, um tipo de assédio e abuso de poder. O WhatsApp, é um ferramenta informal e ninguém pode ser penalizado por não ter respondido ou não ter visualizado uma informação. Já o e-mail, é uma ferramenta de comunicação que atende a formalidade das instituições e, em tempo de pandemia, até a justiça brasileira já o usa para informar e intimar oficialmente o cidadão e a cidadã.
A agilidade que a ferramenta do WhatsApp nos proporciona, faz com que algumas empresas criem grupos no aplicativo com o objetivo de dinamizar o processo de comunicação entre equipes de trabalho mas que, caso não fiquem atentos, podem oferecer elementos processuais que caracterizam assédios das mais variadas formas, exposição das pessoas, agressão ao direito de imagem, constrangimentos, além de abuso do poder.
Na Educação, não é diferente. Pois com a pandemia trazida pela Covid-19, a criação de grupos de WhatsApp para suprir a necessidade de comunicação imediata entre dirigentes das unidades escolares, coordenação, corpo docente e alunado, tornou-se uma opção que parecia inicialmente a solução para a Educação Remota.
Apesar do WhatsApp estreitar a comunicação entre toda a comunidade escolar, não se pensou nos limites que conduziriam a ética comportamental nestes grupos e surgem questionamentos sobre temas como: privacidade, ética e abuso de poder. Como primeira reflexão, trago as postagens nos grupos que são repassados para terceiros e ou de terceiros para o grupo, sem a prévia autorização do autor. Muito importante se faz, antes desta atitude, perguntar ao dono do áudio, do vídeo ou da foto, se, e somente se, pode repassar aquela informação para terceiros, caso contrário, será considerada uma atitude desrespeitosa e de má fé.
O conceito de ética, ainda é muito equivocado e muitos profissionais acreditam que chamar uma pessoa para dialogar referente a um problema que diz respeito a ela, não é uma atitude ética e então preferem generalizar o problema para todo o grupo, mesmo sabendo que os participantes saberão a quem se refere as questões abordadas. É de extrema importância que um funcionário tenha o conhecimento prévio de tudo aquilo que diz respeito a ele e, junto a isso, que lhe seja dado o direito de resposta e/ou defesa, antes de qualquer exposição em grupos do WhatsApp ou em outra rede social.
Um outro grande problema são os avisos oficiais da instituição pelo WhatsApp. É importante entender que apesar de ágil, o WhatsApp está sujeito a muitos ruídos de comunicação. Desse modo, os avisos oficiais da instituição deveriam ser encaminhados por e-mail, veículo seguro e que depois, pode ser comprovado, tanto o seu envio, quanto o seu recebimento.
No caso dos professores e professoras, a opção de criação de grupos de turmas de alunos, facilita muito a dinâmica do processo de ensino-aprendizagem. No entanto, traz sérias consequências a vida dos(as) educadores(as). Percebe-se uma grande invasão de privacidade na vida desses profissionais, pois os alunos, alguns por imaturidade, devido à pouca idade, confundem os professores, e os colocam no lugar de orientadores particulares, não só das atividades escolares, mas também de todos os problemas possíveis e inimagináveis. Além disso, os pais, gradativamente deixam de entender a escola como um todo, passando a ver os professores como servidores particulares de seus filhos e se sentem no direito de cobrar resultados do (a) professor(a) a qualquer hora do dia ou da noite, através do WhatsApp.
Entendemos que é no processo dos excessos que se impõe os limites. Por isso, já é tempo da sociedade refletir se seremos refém das tecnologias ou se de fato esses mecanismos de comunicação vieram para nos auxiliar e nos ajudar a ter melhores condições de trabalho e, consequentemente, melhor qualidade de vida.