O revés do candidato a governador ACM Neto (União Brasil), que começou a campanha na liderança, mas foi superado em votos por seu adversário, fez com que parte de seus aliados iniciasse uma debandada em direção ao candidato governista Jerônimo Rodrigues (PT).
Empurrado pela força de Lula e da máquina governista, Jerônimo teve 49,45% dos votos válidos no primeiro turno contra 40,8% de ACM Neto e 9,08% do bolsonarista João Roma (PL), resultado que fez com que os ventos mudassem de lado no meio político neste no segundo turno.
Prefeitos, deputados, vereadores e líderes políticos que haviam apoiado ao ex-prefeito de Salvador no primeiro turno, agora aderiram ao petista em alianças pouco ortodoxas que incluem até um movimento “JeroNaro”, com voto casado em Jerônimo e no presidente Jair Bolsonaro (PL).
O movimento partiu de setores mais conservadores que não tiveram sucesso nas urnas. O primeiro a mudar de lado foi o vereador e deputado federal em exercício Joceval Rodrigues (Cidadania). Ligado à Igreja Católica, ele foi líder da maioria na Câmara Municipal de Salvador na gestão ACM Neto.
Também aderiu a Jerônimo uma parcela do PSC, legenda ligada à Assembleia de Deus. Derrotado nas urnas, o presidente estadual do partido, Heber Santana, rompeu com ACM Neto, de quem foi secretário municipal, e se engajou na campanha do petista.
O apoio a Jerônimo, contudo, não se estende a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial, diz Eliel Santana, vice-presidente nacional do PSC.
“Nacionalmente, continuamos com Bolsonaro. Mudamos de posição aqui na Bahia por insatisfação com o tratamento que foi dado ao nosso partido. Fomos convidados por Jerônimo e vamos fazer a interlocução dele com o segmento evangélico”, afirma Eliel Santana, pai de Heber.
Ele admite que houve críticas à decisão por parte dos filiados e da militância do partido. Mas diz acreditar que as resistências podem ser contornadas: “O eleitor vota com sua consciência. Não queremos induzir ninguém.”
Com a força da máquina governista, Jerônimo conseguiu trazer para o seu lado mais de uma dúzia de prefeitos de diferentes partidos que no primeiro turno estavam com ACM Neto. O movimento foi apelidado de maneira jocosa de “portabilidade” de prefeitos.
Entre aliados de ACM Neto, a estratégia é vista como pouco efetiva. Eles alegam que dificilmente os eleitores vão mudar a escolha do primeiro para o segundo turno tão somente por orientação de um prefeito ou líder político.
Enquanto intensifica as articulações políticas com o apoio do governador Rui Costa (PT), Jerônimo começa o segundo turno jogando parado: evita polêmicas e já negou o convite para participar de debates em duas emissoras de televisão.
No caso da TV Band, disse que houve problema de agenda. Na TV Aratu, alegou “aparente parcialidade” da emissora, uma vez que esta pertence à família de Ana Coelho (Republicanos), candidata a vice-governadora na chapa adversária.
A Folha apurou, contudo, que a decisão de não participar dos debates faz parte de uma estratégia de não expor o candidato. E justificam a decisão alegando que o adversário fez o mesmo no primeiro turno: ACM Neto faltou a 2 dos 3 debates televisivos que aconteceram no primeiro turno.
O petista também aposta na vinculação com Lula, que desembarcou em Salvador nesta quarta-feira (12) para participar de um ato de campanha de seu aliado. Juntos, fizeram uma caminhada com trio elétrico e ares entre o bairro de Ondina e o Farol da Barra.
Segundo os organizadores, cerca de 100 mil pessoas participaram do ato, quando Lula foi mais incisivo no pedido de votos ao aliado: “Eu preciso que vocês elejam o Jerônimo governador da Bahia”
O ex-prefeito de Salvador ACM Neto, por sua vez, tem adotado um discurso mais racional, que procura colocar água na fervura da polarização nacional. Para convencer o eleitor, aposta em uma comparação de propostas, currículo e de trabalho realizado.
“Essa é a minha grande diferença para o candidato do PT aqui na Bahia: ele foi testado e reprovado. Eu fui testado e considerado o melhor prefeito de todo o Brasil”, afirma.
Nos atos de campanha, tem priorizado cidades de grande e médio porte, além dos municípios da região metropolitana de Salvador, onde teve mais votos que Jerônimo, mas não o suficiente para neutralizar os resultados das pequenas cidades do interior.
Neste segundo turno, manteve a posição de neutralidade em relação à eleição presidencial que já havia adotado no primeiro. Mas passou a fazer acenos mais claros aos bolsonaristas que votaram em João Roma. Aposta no antipetismo para conquistar esses votos, mesmo diante de uma relação turbulenta com o ex-ministro de Bolsonaro.
Amigos e aliados por mais de duas décadas, ACM Neto e Roma estão rompidos desde fevereiro de 2021 e trocaram duros ataques na campanha. Ainda assim, Roma anunciou apoio a ACM Neto no segundo turno, mas se manteve distante da campanha do ex-aliado.
Ao mesmo tempo, aliados próximos a ACM Neto que estavam neutros no primeiro turno aderiram a Bolsonaro, incluindo o vice-governador da Bahia e deputado federal eleito João Leão (PP).
Ao romper com o governador Rui Costa em março deste ano, Leão reafirmou seu apoio a Lula, mas meses depois passou a defender uma condição de neutralidade para atrair votos dos dois lados. Agora, já eleito deputado federal, subiu no barco bolsonarista e afirmou que “chega de PT”.
Outros aliados do ex-prefeito como os deputados federais reeleitos Arthur Maia e Elmar Nascimento, ambos da União Brasil, também desceram do muro e apoiam o presidente no segundo turno.
Houve ainda movimentos em direção a Lula: o principal foi do deputado federal eleito Leo Prates (PDT), considerado braço-direito de ACM Neto, que seguiu a orientação de seu partido e agora apoia o petista na eleição presidencial.
Entre apoiadores e líderes políticos locais, é comum a adoção de adesivo com os emblemas “LulaNeto” e “BolsoNeto”. Assim como no primeiro turno, o ex-prefeito de Salvador segue com o discurso de que está preparado para governar com qualquer presidente que for eleito.
Os adversários criticam a estratégia e apelidaram o ex-prefeito como o candidato do “tanto faz”. Diz Jerônimo: “Se ele quiser continuar assim, a conta é dele. Nós vamos querer debater qual o compromisso que nós temos do Lula em relação à nossa Bahia”.
João Pedro Pitombo/Folhapress