A iniciativa para o encontro do presidente Jair Bolsonaro (PL) com banqueiros da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) partiu de integrantes do governo federal, e não da entidade.
Pelo menos três interlocutores de Bolsonaro, das áreas econômica e política do governo, procuraram dirigentes da alta cúpula da federação para marcar um encontro dele com os banqueiros.
Os pedidos para uma conversa ocorreram logo após a divulgação da notícia de que a Febraban assinou o manifesto em defesa da democracia articulado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de SP), no dia 27 de julho.
O documento não cita Bolsonaro, mas é claramente uma resposta às suas declarações consideradas golpistas.
O presidente até então tinha reagido mal à iniciativa dos banqueiros e dos empresários em defesa da democracia. Entre outros adjetivos, disse que eles eram sem caráter, caras de pau e até mesmo mamíferos.
Apesar da retórica agressiva, integrantes do governo avaliaram que o mandatário, que disputa a reeleição, estava aprofundando o fosso com os representantes do PIB.
Seu isolamento estava se consolidando de tal forma que poderia criar obstáculos ainda maiores do que os que já enfrenta na disputa para permanecer no cargo.
A opção foi, então, pela tentativa de reconstrução de pontes.
Nas primeiras conversas com a Febraban, os emissários do governo queriam saber se, apesar da adesão da entidade ao movimento e das reações do presidente, ainda haveria clima para o diálogo.
A Febraban já tinha aprovado entre seus associados a ideia de convidar os principais candidatos à Presidência da República para debates na entidade.
Os convites, no entanto, ainda não tinham sido endereçados oficialmente, o que só ocorreria depois de 5 de agosto, data das convenções que oficializaram as candidaturas.
Como os bolsonaristas procuraram antes a entidade, a Febraban concordou em antecipar o encontro com o presidente.
Dos cinco maiores bancos que integram a organização, dois são públicos –a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco do Brasil (BB). Não era intenção da federação, portanto, manter um clima de beligerância com o mandatário.
Dirigentes dessas instituições financeiras inclusive participaram da pavimentação do caminho para a retomada de diálogo.
O encontro foi, então, marcado para a segunda-feira (8).
Banqueiros ouvidos pela coluna afirmaram considerar que o presidente baixou o tom na reunião. Apesar de ter criticado o sistema eleitoral, não ofendeu nem agrediu os convidados, e dispensou o uso de adjetivos como “mamíferos”.
Em vez de querer impor sua posição, ele teria tentado se explicar, dando garantias, ao mesmo tempo, de que é democrata.
O saldo foi considerado positivo.
A entidade, agora, está marcando encontros também com outros presidenciáveis, como Lula e Ciro Gomes.
Mônica Bergamo, Folhapress