“A ignorância é que atravanca o progresso” da cultura

Odorico Paraguaçu, personagem de Dias Gomes, interpretado pelo saudoso Paulo Grancindo, na novela “O Bem Amado” da Rede Globo, usava a frase: ‘A ignorância é que atravanca o progresso’, que ridicularizava a sua própria ignorância no modo de gerir, enquanto gestor público. Aproveito esse gancho para refletir sobre o discurso de algumas pessoas da gestão atual em São Sebastião do Passé que demostram total ignorância em alguns aspectos, notadamente aos relacionados com a cultura.

Para começar, trago aqui a legitimidade de alguns artistas reivindicarem a reforma da Casa da Cultura, pois é do reconhecimento dos sebastianenses a importância das atividades realizadas naquele espaço, desde sua inauguração na Gestão do então prefeito Zezito Pena.  Em contraponto e contrassenso, alguns defensores da gestão e “filhos da mãe’, alegam que a cultura já tem espaço demais e para isso apontam o Mercado Cultural em eterna reforma e sem previsão de ser entregue à comunidade, e a sala de espetáculo no espaço programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC), na IV Etapa da Urbis, sala esta, equipada com material de última geração no que diz respeito à tecnologia para espaços culturais e que foi construída na gestão do ex-prefeito Janser Mesquita com recursos federais.

Um, o mercado, não está disponível por estar ainda em fase terminal de reforma e adaptação enquanto que o outro, (auditório da PELC) foi negado a um grupo de artistas que solicitaram pauta para apresentações, logo depois da prefeitura realizar um festival com os recursos da Lei Aldir Blanc, mas isso fica para o Ministério Público e o Tribunal de Contas dos Municípios tomarem as providência cabíveis, se houver.

A questão aqui, é que na sala cênica do PELC, cabe pouco mais de 60 pessoas e nós somos bem mais de 48 mil habitantes. Então, seria bom explicar como pretendem oferecer cultura para um município com um espaço tão limitado para público e fechando espaços que provaram ser de extrema produtividade e aceitação para a população.

Outro ponto, é que ventilam a possibilidade de implantar um palco na sala cênica do PELC. Aqui é a comprovação cabal da ignorância, pois aquela sala foi projetada para espetáculos de dança, teatro e circo, performances contemporâneas onde o publico é distribuído conforme a concepção cênica do espetáculo e, por isso, não deve ter um palco fixo, mas apenas módulos praticáveis e moveis que facilite a visualização por parte do público da apresentação nos diferentes níveis. 

O equívoco, também pode ser comprovado na forma como organizarão as apresentações do “Festival Daniel Tcheco”, limitando o espaço dos dançarinos e colocando o público enfileirados… Foi frustrante ver a bailarina Paula Azevedo e suas ‘pupilas’, limitarem seus movimentos por conta da ignorância dos organizadores no uso daquele espaço. O que se entende de teatro é tão pouco que logo se pensa em transformar qualquer espaço num teatro nos moldes elisabetano que não atende mais à maioria dos espetáculos contemporâneos, pois as salas cênicas são projetadas para atender esse novo formato de expressar-se em caixa.  A pior gestão sempre foi e sempre será aquela que não ouve àqueles a quem deve servir.

Por Cátia Garcez

Professora de Teatro e Mestra em Crítica Cultural