80 anos do Campo de Candeias: o início da indústria do petróleo no Brasil

Foto: Divulgação

Em 14 de dezembro de 1941 jorrava do poço Candeias 1 (C-1), na Bahia, o tão cobiçado “ouro negro” dando início ao sonho da soberania nacional brasileira a partir da comercialização do petróleo.

Passados 80 anos, faz-se necessário lembrar o difícil começo desta saga, que exigiu muitos sacrifícios dos precurssores de uma categoria que anos mais tarde se tornaria referência nacional de luta: os petroleiros. Na época, a região era coberta de mato alto e de extensas áreas de mangue. A sonda de perfuração era transportada em carros de boi e, com muita dificuldade, os trabalhadores abriam a mata a facão para chegar ao local onde a sonda seria instalada.

Foi a partir da Bahia, estado onde o Brasil e a Petrobras nasceram, que o petróleo ganhou novos contornos e sua exploração e produção tornou-se realidade também para outros estados. A Bahia deu “régua e compasso” para que a indústria de petróleo pudesse florescer. Os pioneiros petroleiros da Bahia exportaram o seu conhecimento técnico para que futuramente fosse possível descobrir e explorar novos e importantes campos de petróleo Brasil afora, como a Bacia de Campos (RJ), os campos terrestres de Carnopólis (SE), o do Alto do Rodrigues (RN), São Mateus (ES), São Miguel (Al), Urucu (AM), Fazenda Belém (CE) e o Pré-Sal.

O Campo de Candeias, que pertencia ao Conselho Nacional de Petróleo, pois a Petrobras ainda não havia sido criada, é a pedra fundamental do petróleo e deve ser sempre lembrado e festejado, não apenas pela Bahia, não apenas pelos petroleiros, mas pelo Brasil e pelo povo brasileiro, pois foi a partir da descoberta deste campo que um novo cenário começou a ser desenhado no Brasil.

Com a criação da Petrobras, em 1953, e a constituição da chamada RPBA (Região de Produção de Petróleo da Bahia) hoje denominada UO-BA (Unidade Operacional da Bahia), outros campos de petróleo e gás passaram a ser explorados no recôncavo baiano.

Como é intrínseco à atividade, logo surgiu a necessidade de processar esse óleo e seus derivados. Assim, em 1950, foi criada a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), no município de São Francisco do Conde, próximo à cidade de Candeias, onde o promissor campo de petróleo atuava a todo vapor produzindo, no seu auge, cerca de 10 mil barris de petróleo por dia.

O surgimento dessa nova riqueza incentivou, em 1953, a oficialização do monopólio estatal sobre a atividade petrolífera e a criação da empresa estatal “Petróleo Brasileiro S.A.”, mais conhecida como Petrobras. É importante ressaltar que o estabelecimento do monopólio e a própria criação da estatal vieram juntos com uma forte campanha popular denominada o “Petróleo é Nosso”, que teve muita força em todo o Brasil, e principalmente na Bahia. Até 1965, a Bahia foi o único estado nacional a produzir petróleo.

Para dar vazão ao gás produzido nos campos terrestres do recôncavo baiano foi criada, em 1971, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, a FAFEN (antiga Nitrofértil), localizada no Polo Petroquímico de Camaçari, que no ano de 1993 foi incorporada à Petrobás. A partir da Bahia, a produção de petróleo e gás em campos terrestres avançou Nordeste afora.

Tendo como ponto de partida a produção da UO-BA nasceu uma grande indústria ancorada na produção do petróleo e seus derivados explorados nos campos terrestres da Petrobras.

Esse foi só o começo de uma grande história que levou à ampliação do Sistema Petrobras à criação do Polo Petroquímico de Camaçari – o mais integrado do hemisfério Sul – e à aceleração do desenvolvimento econômico da Bahia e do Brasil.

DESMONTE

Mas, infelizmente, a Bahia, estado onde surgiu o petróleo, foi o local escolhido pelo governo federal para dar início ao desmonte da Petrobras e à venda de suas unidades a preços abaixo dos valores de mercado. E justamente o Campo de Candeias, berço da comercialização do petróleo no Brasil, foi vendido para a empresa 3R Petroleum. Mas não só ele, outros campos de exploração e produção de petróleo e gás, não só na Bahia, mas em outros estados do país, também foram vendidos.

A gestão da estatal deu início a uma autossabotagem, quebrando a cadeia de petróleo do Nordeste para justificar a venda e fechamento de suas unidades. Para isto, reduziu consideravelmente a capacidade instalada da Rlam, forçando o Brasil a importar gasolina, diesel e GLP, que poderiam ser produzidos no país.

Adotou o PPI –Preço de Paridade de Importação- levando os preços dos derivados de petróleo às alturas, transformou em commodities o preço do gás produzido por ela mesma, inviabilizando economicamente as suas próprias fábricas de fertilizantes, fechou a sede administrativa da empresa em Salvador e parou de investir nos seus campos terrestres de petróleo e gás, colocando-os à venda. Assim como estão à venda a Petrobras Biocombustível e as termelétricas (algumas já vendidas).

Porém, a atual gestão da Petrobras não conseguiu apagar a história dessa grande empresa, forjada a partir da dedicação e luta dos petroleiros e petroleiras de todo o Brasil. A eles e a elas, dedicamos esta data “em que comemoramos os 80 anos da descoberta do Campo de petróleo de Candeias, na esperança de que dias melhores virão e que conseguiremos resgatar a Petrobras que queremos: pública, integrada e a serviço da nação brasileira”.

Fonte: Sindipetro Bahia, Aepet, Astape e Abraspet

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